“Só sei que não sei nada” como já dizia Sócrates, não é a revelação feita ao ignorante por quem sabe tudo, mas o diálogo entre iguais que se fazem cúmplices em sua mútua submissão á força da razão e não a razão da força.
Existe algo fora de nossas mentes? Por que uma palavra significa algo? Por que uma ação é boa ou má? O que é o homem senão o animal que pergunta e que continuará perguntando para além e qualquer resposta imaginável? “não me satisfaz nenhum dos saberes com que vocês tanto se contentam. Se saber consiste nisso, não devo saber nada, pois vejo objeções e falta de fundamento nas certezas de vocês. Mas pelo menos sei que não sei, isto é, encontro argumentos para não me fiar no que comumente se chama saber. Talvez vocês saibam realmente tantas coisas como parece, e, se é assim, deveriam ser capazes de responder a minhas perguntas e esclarecer minhas dúvidas.”
Agora, pensando um pouco no que muitos talvez nunca tenham pensado de forma literária, com o ‘eu’, bom, viver a gente vive neste mundo, com um corpo que fala e anda, cercado de gente como a gente, não entre os espíritos... Por mais fantástico que seja ser espírito. Os espíritos também estão mortos, também tiveram que padecer a morte estranha e horrível, ainda a padecem. “E assim, a partir da revelação da minha morte impensável, comecei a pensar”. Por um lado, a consciência da morte nos faz amadurecer, a certeza da morte nos humaniza!
Platão diz que filosofar é “preparar-se para morrer”, da morte que faz a vida-minha vida, única e irrepetível. O agravamento da inquietude entre a afirmação geral e a que leva meu nome como sujeito me revela o caráter único e irredutível da minha individualidade. A morte é o que há de mais individualizador e ao mesmo tempo de mais igualitário, ao nascer trazemos ao mundo o que nunca antes havia sido, ao morrer levamos o que nunca voltará a ser. Morremos porque estamos vivos. Creio saber o que é morrer, mais não o que é eu morrer. Em todos os lugares e em todos os tempos a religião serviu para das sentido a morte. Se a morte não existisse, não haveria deuses, ou melhor, os deuses seriamos nós, os humanos mortais, e viveríamos no ateísmo divinamente... Esse reino dos mortos, não é mais do que um sinistro reflexo da vida que conhecemos, um lugar profundamente triste.
De modo que nem mesmo as religiões com maior garantia post mortem asseguram a “vida” eterna: só prometem a eterna existência ou duração, o que não é a mesma coisa que a vida humana, que nossa vida. “Crentes” são na realidade os “incrédulos”, que negam a realidade última da morte. “Morrer, dormir... talvez sonhar!”, a que haveria para além da morte- também é inspirado por nossa faculdade de sonhar...
Enquanto nós estamos, a morte não está; quando a morte chega, nós deixamos de estar. Se a morte é não ser, já a vencemos uma vez: no dia que nascemos. Porém agora já vivi, conheço o que é viver e posso prever o que perderei com a morte. “nem o sol nem a morte podem ser olhados de frente”quando a morte nos angustia, é por algo negativo, pelos prazeres da vida, ou seja a morte é pura negação do avesso. De modo que a morte serve para nos fazer pensar , mas não sobre a morte sim sobre a vida.
Quem pode nos afirmar que o que hoje é dado como certo também não será descartado amanhã? Imprescindível revisar, de vez em quando, algumas coisas que acredito saber.
Essa faculdade (esse conjuntos de faculdades?) chamados razão é justamente o que todos nós, os humanos, temos em comum, e nisso se baseia nossa humanidade compartilhada. O cepticismo, que põe em dúvida todos e cada um dos conhecimentos humanos; mais ainda, que dúvida todos e cada um dos conhecimentos humanos; mais ainda, que dúvida até mesmo da capacidade humana de chegar a ter algum conhecimento digno desse nome. Por que a razão não pode dar conta nem se dar conta de como é a realidade? Suponhamos que estejamos ouvindo uma sinfonia de Beethoven e que com papel e lápis, tentemos desenhar a harmonia que ouvimos, faremos diversos traços naturalmente, no entanto não haverá ninguém capaz de saber o que realmente é, pois do mesmo modo a razão humana fracasse ao tentar reproduzir e captar a realidade, de cujo registro ela está tão distante quanto o desenho da música... se é verdade que não conhecemos verdade, pelo menos já conhecemos uma verdade... logo não é verdade que não conhecemos a verdade.
Nossos sentidos e nossa mente são reais e por isso conseguem, bem ou mal, refletir o resto da realidade... há tantas verdade quantas culturas, quantos sexos, quantas classes sociais, quanto interesses... quantos caracteres individuais!
“A posse da verdade absoluta não se encontra apenas por acaso além das mentes particulares; é incompatível com o estar vivo, porque exclui toda situação, órgão, interesse ou data de investigação particulares: a verdade absoluta não se pode descobrir justamente porque é uma perspectiva.” Mas o fato de toda a verdade que alcançamos racionalmente responder a uma certa perspectiva não a invalida como verdade, só a identifica como “humana”. Todo raciocínio é social, porque reproduz o procedimento de perguntas e respostas que empregamos para o debate com os outros.
“Conversar” não é o mesmo que ouvir sermões ou atender a vozes de comando. Só de conversa-sobretudo só se discute- entre iguais, e raciocinar conseqüentemente exige a universidade humana da razão, o não excluir ninguém do diálogo em que se argumenta. Afinal, quem sou? Ou talvez, o que sou eu?